POR ONDE ANDA O TEU AMADO?

TEXTO BASE: Cântico dos Cânticos 3:1,4

 "De noite busquei em minha cama aquele a quem ama a minha alma, busquei e não o achei. Levantar-me-ei, agora e rodearei a cidade, pelas ruas e pelas praças, buscarei aquele a quem ama  a minha alma. Busquei-o, mas não o achei. Acharam-me os guardas da cidade. Eu lhes perguntei: Vistes aquele a quem ama minha alma? Apartando-me eu um pouco deles logo achei aquele a quem ama a minha alma. Detive-o, até que o introduzi na casa da minha mãe, na câmara daquela que me gerou."

Uma das maiores aflições dos seres humanos é o sentimento de solidão e isolamento, talvez este sentimento seja tão implacável para algumas pessoas que se torna um tormento contínuo. Sentir-se só, em determinados momentos da vida é normal, isolar-se do mundo por um tempo, também parece algo comum, mas no texto,  Salomão expressa uma  passagem que trata de um sentimento de solidão que excede os limites da normalidade. A narrativa poética, nos remete ao ambiente da noite, e noite na Bíblia Sagrada é um sinal de cuidado, alude às trevas, penumbra, perigo aparente, "...Não somos da noite, nem das trevas" (1 Ts 5;5b). A noite sinaliza um período de silêncio, onde até mesmo os menores ruídos tornam-se grandes, e é nesta situação que Salomão, nomeio-o assim nesta passagem, se encontra, imerso à escuridão e ao silêncio noturno, sentindo falta daquele que ama sua alma, procurou em casa e nos arredores, não o achou, desesperou-se por estar na solidão, sentindo saudades... Resolve sair a procurar aquele a quem ama sua alma, não o encontra nos cantos e recantos dos arredores, incansavelmente procura entre as sombras da noite aquele que ama sua alma, aquele que lhe cativou e agora está ausente - não sabemos o porquê desta separação, mas podemos refletir sobre isso - procura e não o encontra, até que é abordado pelos vigias da noite, pela guarda da cidade, a quem pergunta em tom de desespero se por acaso não sabem onde se encontra aquele que ama sua alma. Os guardas de nada sabiam, não souberam responder, liberaram-no, andou, procurou, até que depois de muito esforço encontrou aquele a quem procurava, e num gesto desesperador, segurou-o com força e trouxe consigo, aquele a quem ama a sua alma, levou-o para casa, para segurança do lar, introduziu no aconchego  e descansou. Esta passagem parece estranha do ponto de vista humano,  alguém que procura por outro alguém para fugir da solidão... estamos falando de algo espiritual, que foge da compreensão meramente humana. Alguém que se sente só, que já provou do amor de Deus em sua vida, mas que em função das atitudes, das decisões impensadas perdeu a comunhão com Deus, alguém que outrora podia contar com o consolo e o afago de Deus, mas que após romper com esta relação espiritual de amor e proximidade, perde tudo, não no sentido material, mas perde no emocional, sente um vazio dentro de si que não pode ser preenchido com nada deste mundo, como o sedento que acorda com alma vazia (Is 29;8). Há muitos que quando sentem-se desta maneira recorrem a subsídios deste mundo para saciar a ausência que sentem no coração, muitos vão em busca dos prazeres, dos amores impossíveis, das drogas, da vaidade, mas não conseguem preencher o espaço da alma que clama por aquele que a criou, suspira por Deus (Sl 42;1). O ensino que esta passagem nos traz é de que podemos afastar Deus de nossas vidas, às vezes por vontade própria, ou às vezes por imaturidade e descuido. Deus respeita o livre arbítrio e permite que fiquemos sozinhos, embora de longe fique nos cuidando, esperando a oportunidade para aproximar-se e recomeçar a história conosco, ele apressa-se em auxiliar o abatido (Sl 40:13b), mas é preciso, assim como Salomão o fez, que o busquemos de todo o coração, de toda a alma, que reconhecemos que ficamos sós e desamparados, que peçamos perdão dos nossos pecados (Sl 22:1). Então, quando recobramos o sentido e percebemos que o vazio de nosso coração e alma não pode ser suprido com as coisas deste mundo, é que nossa alma pede por Deus, e ele vem ao encontro dos seus. Se colocarmos nossa esperança em Deus ele tomará conta de nossa vida e suprirá nossa alma com as virtudes e bênçãos dos céus. Se hoje ouvir a voz de Deus não endureça seu coração (Hb 3:8) e deixe que o Espírito Santo te ensine como permanecer para sempre em Deus, e com certeza jamais voltará a sentir esta ausência na alma.

Sandro Flores da Rosa